Um dos pensadores brasileiros mais admiráveis, em minha opinião, é Rubem Alves. Sugiro que todos leiam Rubem Alves sempre, pois seus pensamentos sobre educação, desenvolvimento do país, sobre a vida são incríveis (é só dar uma olhada no site dele).
Um dos meus textos favoritos do autor se chama “Escutatória”. Veja como ele abre o texto:
“Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular”.
Verdade, não é? Temos de exercitar nosso poder de ouvir. Mas não o qualquer ouvir. Temos de exercitar o ouvir legítimo, direcionando nossa atenção para o próximo de forma verdadeira. Esse ouvir é diferente do ato de escutar o que o outro está dizendo sem prestar atenção de fato em suas palavras.
Temos o hábito de ficar centrados apenas em nosso universo em detrimento do próximo. E esse comportamento não se reflete só na vida pessoal. Quantas vezes você não esteve diante de um vendedor cujo principal objetivo era discursar sobre seu produto sem se importar com a sua real demanda, sem te ouvir.
Em outra parte do texto Rubem Alves dá uma dica do motivo desse comportamento estar tão presente em nós:
“Parafraseio o Alberto Caieiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer”
UAU!!!! Que tapa na cara, não é?
Afinal, vamos exercitar a escutarória. Certamente seremos pessoas melhores e contaminaremos a todos com nossa atenção, desejo de ajudar e energia. E construiremos um Brasil melhor (pretencioso, não é?).